Conduta da enfermagem frente à família dos pacientes em morte encefálica

Após o fechamento do protocolo de ME é efetivada a aproximação familiar com o intuito de provável doação de órgãos e tecidos. Esse é um momento de muita fragilidade, considerando o grande impacto emocional que pode causar relutância familiar na tomada de decisão.  O conhecimento sobre ME por parte dos familiares ainda é muito escasso e por isso, é a principal causa da recusa familiar, sendo seguido por:

  • Questões religiosas
  • Entrevista familiar mal realizada;
  • Desejo de conservar a integridade do corpo, principalmente por desconhecer o desejo do potencial doador em vida. 

Os motivos do déficit de conhecimento sobre ME podem ser ocasionados pela inexistência de estudos sobre o assunto e há pouca divulgação, gerando desconfiança em relação ao diagnóstico.

Dessa forma, no momento de desolação dos familiares, sinais como temperatura do corpo do paciente, presença de batimentos cardíacos dificultam ainda mais a percepção de ME, já que o familiar, na maioria das vezes, ainda acredita que o paciente pode voltar à sobrevida. Diante disso, faz-se importante a presença da família no processo de apuração da ME, fazendo com que o diálogo não seja a única forma de conclusão do caso, mesmo com a manifestação do desejo de doar em vida

No Brasil, prevalece a decisão dos familiares, por isso se faz necessário oferecer assistência emocional além de oferecer informações sobre todo o processo. Portanto, o enfermeiro deve proporcionar cuidados para o potencial doador e para os familiares, visto que dessa forma há maiores oportunidades de consentimento da doação. 

Na entrevista familiar, o enfermeiro deve:

  • Buscar estabelecer vínculo e obter confiança, o que facilita a efetivação da doação;
  • Prestar informações fidedignas quanto ao diagnóstico de ME;
  • Esclarecer sobre o anonimato do doador e receptor
  • Salientar sobre a necessidade de manutenção do corpo na UTI;
  • Informar sobre a possível interrupção em caso de parada cardíaca
  • Informar os principais exames a serem realizados, como: exame clínico por dois médicos no intervalo de uma hora; teste de apneia; exames complementares como angiograma cerebral; eletroencefalograma; doppler transcraniano e cintilografia de perfusão cerebral que constataram a ME;
  • Instruir os familiares sobre o conceito de ME e o significado de doar.

Dessa forma, os enfermeiros assumem o papel de educadores, com o intuito de otimizar a melhoria na relação entre equipe, família e paciente. Entretanto, também se faz necessário proporcionar o tempo indispensável para a família entender a situação de morte e não apenas ofertar informações, compreendendo que cada um tem seu tempo individual para o processamento dessa nova realidade.

Em resumo, os enfermeiros necessitam estar munidos de explicações simples e claras, considerando os aspectos sociocultural dos familiares, para que seja assegurado o bom entendimento do assunto antes da discussão a respeito da doação. 

Após a autorização da família, dá-se abertura ao protocolo interno que abrange procedimentos técnicos e administrativos que são necessários para assegurar a doação.

Fonte: BRASIL, Decreto nº 9175/2017